Investidores de COEs da Braskem e Ambipar enfrentam perdas de até 93%

Investidores de COEs da Braskem e Ambipar enfrentam perdas de até 93%

Investidores que compraram COEs ligados aos bonds da Braskem S.A. e da Ambipar Environment & Infrastructure Inc. estão vendo seus recursos evaporarem, com perdas que chegam a 93 %.

As perdas se intensificaram em outubro de 2024, quando os títulos de dívida dessas duas empresas despencaram no mercado secundário. A liquidação antecipada dos certificados foi acionada entre 1º e 10 de outubro, data em que a maioria dos investidores recebeu menos de 7 % do capital investido.

Contexto dos COEs no mercado brasileiro

Os Certificados de Operações Estruturadas (COEs) são produtos de renda fixa que prometem retornos atrelados a ativos de maior risco, como bonds internacionais. Desde o início de 2024, estima‑se que cerca de 15 % da carteira de produtos de crédito de grandes corretoras seja composta por COEs, segundo dados do G1.

O apelo desses instrumentos vem da possibilidade de reduzir a tributação de 40 % para 15 %, vantagem frequentemente citada por bancos e corretoras. Entretanto, o risco está embutido em cláusulas de gatilho: se o preço de referência cair 50 % ou mais, o COE pode ser liquidado imediatamente.

Queda dos bonds da Ambipar e da Braskem

A Ambipar Environment & Infrastructure Inc., com sede em São Paulo, viu seu bond cair de R$14,10 para R$0,75 em apenas dez dias – uma desvalorização de 90,5 %.

Já os títulos da Braskem S.A. negociam em torno de 20 % do valor de face. Essa deterioração disparou as cláusulas de gatilho dos COEs, que foram ativadas em 10 de outubro de 2024.

Os números são impressionantes: investidores que aplicaram R$1.000,00 em um COE da Ambipar terminaram com apenas R$70,00; quem colocou R$100.000,00 ficaram com R$6.880,00. Em total, são 41 emissões da Ambipar e 78 da Braskem, todas atreladas a bonds emitidos no mercado internacional.

Como funciona a liquidação antecipada

Como funciona a liquidação antecipada

Os contratos de COE contêm cláusulas de "gatilho de defesa de capital". Quando o preço do bond cai 50 % do valor de referência, o certificado é liquidado e o investidor recebe o valor residual, que costuma ser uma fração mínima do capital original.

Para a Ambipar, a devolução foi de 6,88 % do valor investido em emissões realizadas até 18 de março de 2024 – uma perda de 93,12 %. Já os COEs da Braskem preveem devoluções entre 26,62 % e 36,97 % para emissões até 25 de março de 2024, equivalendo a perdas de 63,03 % a 73,38 %.

Essa mecânica foi acionada automaticamente, sem aviso prévio aos investidores, o que gerou revolta nas redes sociais e reclamações no Reclame Aqui – onde já existem cerca de 20 relatos de prejuízos graves.

Reações de corretoras e investidores

A XP Investimentos enviou comunicado aos assessores confirmando que os investidores receberão menos de 7 % do valor aplicado nos COEs da Ambipar. O BTG Pactual S.A., outra grande vendedora desses produtos, utilizava o slogan "O retorno da renda variável, com a segurança da renda fixa" – slogan que agora parece contraditório.

Em entrevista ao InvestNews, César Queiroz, CEO da Queiroz Investimentos e Participações, disse: "Infelizmente, o COE tem sido vendido e negociado de uma maneira que não leva ao investidor a correta informação dos riscos embutidos. Todo ativo de mercado financeiro que gera uma vinculação de longo prazo tem variáveis de risco inerentes, e isso nem sempre é explicado". Ele ainda acrescentou que "o ônus acabou ficando, como sempre, para o pequeno e médio investidor, que acreditou no discurso, deixou o dinheiro travado numa operação casada e agora paga a conta".

Vários investidores relataram perdas de até R$270 mil em certificados com vencimento em 2031, conforme depoimento registrado em 6 de outubro de 2024 no Reclame Aqui.

Impactos e perspectivas

Impactos e perspectivas

Além do prejuízo imediato, a crise dos COEs pode gerar um efeito cascata no mercado de renda fixa estruturada. Analistas preveem que corretores poderão reduzir a oferta desses produtos ou exigir divulgações mais claras sobre gatilhos e riscos.

Para a Ambipar Environment & Infrastructure Inc., um pedido de recuperação judicial está previsto para a próxima semana, depois de ter obtido proteção emergencial contra credores no final de setembro de 2024.

Do lado da Braskem S.A., a empresa ainda não comentou oficialmente, mas a queda dos bonds pode pressionar novos acordos de crédito com bancos internacionais.

Enquanto isso, o Banco Central e a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) iniciaram avaliações sobre a adequação das informações fornecidas nas fichas de COE, podendo resultar em novas normas de transparência.

Perguntas Frequentes

Como os investidores podem recuperar parte dos valores perdidos?

A recuperação depende dos termos de cada COE. Nos casos da Ambipar e Braskem, a liquidação antecipada já definiu um valor residual – 6,88 % e entre 26,62 % e 36,97 %, respectivamente. Fora isso, os investidores podem tentar acordos judiciais contra as corretoras que venderam os produtos sem avisar o risco de gatilho.

O que são COEs e por que são considerados arriscados?

COE – Certificado de Operação Estruturada – combina características de renda fixa e variável. Embora prometam retornos superiores, incluem cláusulas de gatilho que podem liquidar o investimento se o ativo de referência cair além de um limite pré‑estabelecido, como aconteceu com os bonds da Ambipar e Braskem.

Quais corretoras comercializaram esses COEs?

Os principais veículos foram a XP Investimentos e o BTG Pactual S.A., que ofereceram os certificados tanto para investidores institucionais quanto para o público‑geral.

Qual a expectativa para os bonds da Ambipar e da Braskem?

Os bonds da Ambipar estão negociados a cerca de 13 % do valor de face, enquanto os da Braskem circulam em torno de 20 %. Analistas preveem pouca recuperação de preço no curto prazo, especialmente se a Ambipar avançar com o pedido de recuperação judicial.

O que a CVM está fazendo em relação a esses produtos?

A Comissão de Valores Mobiliários abriu uma investigação preliminar para avaliar se as corretoras cumpriram as exigências de transparência e adequação de informação ao vender COEs. Eventuais recomendações podem incluir a obrigatoriedade de destaque mais claro das cláusulas de gatilho.

1 Comment
  • Wellington silva
    Wellington silva

    A estrutura dos Certificados de Operações Estruturadas impõe aos investidores uma dupla fronteira de risco e retorno que muitas vezes é subestimada. Os gatilhos de defesa de capital funcionam como cláusulas de corte automático, ativadas ao atingirem um decréscimo de cinquenta por cento no ativo de referência. Essa mecânica, embora descrita nos prospectos, raramente recebe a devida atenção dos investidores de varejo. Quando o preço dos bonds da Braskem e da Ambipar despencou, o efeito dominó nos COEs foi imediato. A liquidação antecipada converteu investimentos de longo prazo em perdas quase totais, como demonstram os percentuais de 93% e 70% de recuperação. Do ponto de vista da teoria financeira, o preço de recuperação residual reflete apenas o valor de liquidação de ativos subjacentes, sem considerar custos de oportunidade. Além disso, a compressão de prazos nas negociações secundárias exacerbou a volatilidade dos títulos de dívida. Corretoras como XP e BTG Pactual, ao comercializar esses instrumentos, delegaram a responsabilidade da due diligence ao cliente final. Tal prática viola, em tese, os princípios de adequação e transparência que regem a relação de consumo no mercado de capitais. A Comissão de Valores Mobiliários tem margem para ampliar suas diretrizes de divulgação, impondo destaque visual às cláusulas de gatilho. Os investidores, por sua vez, precisam rever sua alocação de capital, privilegiando ativos com estruturas de risco mais claras. Uma estratégia de diversificação que inclua instrumentos com garantias reais pode mitigar impactos de eventos extremos. A análise de cenários deve incorporar a possibilidade de eventos de cauda, sobretudo em mercados de crédito emergente. Em última instância, a educação financeira ainda carece de conteúdos que exponham detalhadamente esses produtos híbridos. A falta de compreensão profunda gera vulnerabilidade a perdas sistêmicas, como evidenciado neste caso. Portanto, a experiência amarga dos COEs vinculados à Braskem e à Ambipar se configura como um alerta sobre a necessidade de maior rigor regulatório e prudência individual.

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